Políticas Governamentais de Transformação Digital

Renor A A Ribeiro, Ph.D. (2025)

 
 

As políticas governamentais brasileiras buscam aproveitar o potencial das tecnologias digitais para aumentar a produtividade, competitividade e os níveis de renda e emprego em todo o país, visando a construção de uma sociedade livre, justa e próspera. As tecnologias digitais estão cada vez mais integradas à vida diária, e para que o Brasil beneficie plenamente dessa revolução, a economia nacional precisa se transformar, absorvendo a digitalização em seus processos, valores e conhecimento, com dinamismo, competitividade e inclusão.

Nesse contexto, a Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-Digital) foi elaborada como uma iniciativa do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com ampla participação da administração pública, setor produtivo, comunidade científica, acadêmica e sociedade civil. A E-Digital busca coordenar diversas iniciativas governamentais sobre o tema com uma visão unificada e sinérgica, sendo concebida como uma política pública "viva", sujeita a acompanhamento, avaliação e ajuste contínuos. A estratégia se estrutura em eixos habilitadores e eixos de transformação digital, que englobam a transformação digital da economia e a transformação digital do governo com vistas ao pleno exercício da cidadania digital. O autor Wender Rodrigues de Siqueira, doutorando em Administração pela Universidade de Brasília e professor da Universidade Federal de Catalão, destaca a transformação digital do governo como um de seus temas de atuação.

Um dos eixos habilitadores cruciais da E-Digital é a infraestrutura e o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação. O Brasil enfrenta um duplo desafio na expansão das redes de banda larga: por um lado, é necessária a ampliação da infraestrutura de redes de transporte de dados em fibra ótica para os backbones nacionais; por outro, é preciso ampliar as redes de acesso fixa e móvel. Embora a quantidade de acessos tenha evoluído, há concentração regional. A expansão da infraestrutura deve envolver tanto o aumento da capacidade das redes nos centros urbanos quanto a maior capilaridade em áreas de menor densidade, como distritos não-sede e áreas rurais, utilizando diversas tecnologias. Iniciativas como a utilização de recursos oriundos de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) de operadoras e saldos da adaptação do modelo de concessão são vistos como possibilidades concretas de investimento. A atualização da legislação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) para permitir seu uso na expansão da banda larga é considerada importante, assim como a revisão do modelo de precificação de radiofrequências. Projetos específicos como o Amazônia Conectada, que implanta cabos subfluviais para prover infraestrutura no Norte, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), para atender áreas não contempladas por infraestrutura terrestre, e o cabo submarino Brasil – Europa, para auxiliar na distribuição de tráfego internacional, são exemplos de ações para superar esses desafios. A elaboração de um roadmap para a tecnologia 5G, o fomento à P&D, e o reforço do diálogo com a iniciativa privada também são mencionados. Os Pontos de Troca de Tráfego (IXP), como o de São Paulo, que é um dos cinco maiores globalmente, são elementos importantes na arquitetura de redes, contribuindo para a robustez e disseminação da Internet. O uso de espectro não-licenciado, como em redes Wi-Fi, tem sido amplamente adotado, inclusive por pequenos prestadores de serviço, e pode impulsionar os objetivos da Estratégia. O acesso Wi-Fi em locais públicos e em escolas (Programa Banda Larga nas Escolas) é um instrumento de inclusão digital. O relatório do TCU sobre a Política Pública de Inclusão Digital destacou ações passadas como o GESAC e projetos como Cidadão Conectado e PNBL, mas também apontou a carência de alfabetização digital e a dificuldade de coordenação entre órgãos como entraves. O Programa Cidades Inteligentes do MCTIC visa implantar infraestrutura de fibra óptica urbana para conectar órgãos públicos e oferecer acesso público à Internet. A visão para o futuro da infraestrutura digital inclui todos os municípios atendidos com redes de alta capacidade e banda larga móvel/fixa.

Outro eixo habilitador é a Confiança no Ambiente Digital, com o objetivo de tornar a Internet um ambiente seguro e confiável, respeitando os direitos dos cidadãos. O Marco Civil da Internet estabelece princípios, garantias, direitos e deveres, e reforça o compromisso brasileiro com a proteção dos direitos humanos na rede. No entanto, à época da fonte, o Brasil ainda não possuía uma lei abrangente de proteção de dados pessoais, apesar da circulação global de grandes volumes de dados ("free flow of data"). A segurança cibernética é encarada como prioridade nacional diante da expansão da Internet e do crescimento da Internet das Coisas, que aumentam as vulnerabilidades. Há a necessidade de revisar e integrar a legislação de crimes cibernéticos. A Política Nacional de Segurança da Informação estabeleceu princípios e objetivos para a administração pública federal e serviu de base para a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética (e-Ciber). A E-Ciber busca preencher lacunas normativas e gerenciais fragmentadas, estabelecendo ações para atingir a visão de tornar o Brasil um país de excelência em segurança cibernética. A Estratégia recomenda a harmonização do marco legal, a ampliação da cooperação internacional, o fortalecimento da proteção de infraestruturas críticas (mencionando normativos para o setor financeiro), e o fomento à P&D e à adoção de padrões globais. A gestão da segurança cibernética envolve múltiplos atores e requer coordenação política efetiva, incluindo setor privado e sociedade. A comunicação e o compartilhamento de informações sobre riscos e incidentes cibernéticos entre os Centros de Tratamento e Resposta a Incidentes de Segurança Cibernética (CSIRTs) são essenciais para uma abordagem coordenada.

A Educação também é um eixo temático importante na transformação digital, visando preparar os estudantes para o mercado de trabalho e melhorar a gestão escolar. O uso da tecnologia na educação deve ser gradual para evitar efeitos adversos. A conectividade, especialmente a banda larga nas escolas, é vista como veículo para melhorar as políticas educacionais, auxiliando na gestão, formação de professores, acesso dos alunos à informação e acompanhamento pelos pais. A política vigente, baseada no ProInfo de 1997, precisa ser atualizada. A formação profissional técnica tem crescido, incluindo cursos na área de informação e comunicação e oferta à distância. Os Recursos Educacionais Abertos (REA), que vão além de conteúdo gratuito ao permitir adaptação e criação local, são incentivados por declarações internacionais e pelo Plano Nacional de Educação, fomentando novas práticas educativas impulsionadas pela cultura digital. Tendências como Educação Aberta e MOOCs, o desenvolvimento de habilidades do mundo real e a personalização do aprendizado com análise de dados são destacadas. As ações estratégicas incluem priorizar o pensamento computacional, formular uma nova política de tecnologia educacional, ampliar a conectividade nas escolas, aprimorar a formação de professores, fomentar a produção e disseminação de conteúdos digitais (especialmente REA), e revisar políticas tradicionais como o PNLD para a transição digital.

A Dimensão Internacional busca fortalecer a liderança brasileira em fóruns globais, estimular a competitividade de empresas brasileiras no exterior e promover a integração regional. Há oportunidades para ampliar a presença de empresas brasileiras internacionalmente, incluindo startups e a participação em plataformas digitais globais. Manter a liderança brasileira na governança da Internet, baseada no multissetorialismo, é crucial. Desafios como a assimetria de representatividade em fóruns internacionais e a gestão de temas críticos como segurança cibernética e tributação são mencionados. No âmbito regional, o Brasil tem atuado em iniciativas como o Grupo Agenda Digital do MERCOSUL e a Agenda Digital para a América Latina e Caribe (eLAC 2020). A proposta de um Mercado Único Digital na América Latina, inspirada na União Europeia, é vista como uma oportunidade econômica para o país. É estratégico que o Brasil participe ativamente nas negociações e coordenação da Economia Digital em âmbito internacional. A internacionalização das empresas brasileiras no comércio eletrônico ainda é limitada em comparação com o seu potencial, sendo necessário promover a integração de processos de cobrança e logística para exportação via e-commerce e apoiar mecanismos de segurança online e meios de pagamento digitais.

No que tange à transformação digital da economia, a Internet das Coisas (IoT) é um fator chave, conectando pessoas, dispositivos, sensores e máquinas. A vasta quantidade de dados gerados ("digital exhaust") serve como matéria-prima cujo valor é maximizado com a reutilização. O Plano Nacional de IoT busca garantir um impacto positivo na economia e na vida das pessoas, atuando em diversas dimensões e propondo iniciativas. A intersecção entre indústria e serviços aumenta, com a automação de tarefas devido às tecnologias digitais. Desafios incluem a redução de custos de dispositivos, análise de dados e atração de investimentos, além de questões de privacidade e segurança de dados pessoais. Plataformas digitais também remodelam diversos setores, desde serviços de busca até mídias sociais, comércio eletrônico e economia criativa. O "efeito rede" pode criar barreiras de entrada, e a concentração de poder econômico em poucas bases de acesso é uma preocupação. No comércio eletrônico, programas como o Exporta Fácil apoiam pequenas empresas na exportação. Na economia criativa, o impacto das plataformas de streaming exige discussão sobre transparência e remuneração de direitos autorais em nível internacional.

A transformação digital do governo visa redesenhar estruturas e processos estatais para torná-los mais ágeis e alinhados às necessidades da sociedade, incrementando a relação com cidadãos e tornando as instituições públicas mais transparentes e com melhores canais digitais de interação. Apesar do aumento no acesso à Internet, a proporção de usuários de serviços de governo online permanece constante, indicando a necessidade de expandir e aprimorar a oferta desses serviços para que os cidadãos possam resolver demandas sem deslocamento físico. A integração e convergência de serviços digitais podem centralizá-los, reduzindo a fragmentação e aumentando o conforto e agilidade para o cidadão. É fundamental que o governo veja a Internet não apenas como ferramenta de transparência, mas como um meio para prestar melhores serviços. A e-Saúde é um exemplo de como a tecnologia está mudando a organização e oferta de serviços de saúde, exigindo integração e interoperabilidade de sistemas para melhorar a qualidade da atenção. Indicadores como o Índice de Dados Abertos (Global Open Data Index), onde o Brasil foi classificado como o 8º país mais aberto em dados governamentais em 2017, e os da Pesquisa TIC Domicílios e TIC Governo Eletrônico são utilizados para acompanhar a evolução. A Estratégia de Governança Digital do Ministério do Planejamento (mencionada em relação a indicadores) já previa indicadores específicos para o governo digital.

A Estratégia Nacional de Governo Digital (ENGD) representa um marco na transformação digital do setor público brasileiro. Prevista em lei (Lei nº 14.129/2021) e instituída por decreto (Decreto nº 12.069/2024), a ENGD é coordenada pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e foi construída de forma colaborativa. Seu objetivo é modernizar a gestão pública, aumentar a eficiência dos serviços e fortalecer a participação cidadã. O decreto detalha ações e diretrizes para o período de 2024 a 2027, incluindo 10 objetivos declarados.

No âmbito da Governança de Dados no setor público, que é um tema chave e de vanguarda na transformação digital, o Brasil está acima da média da OCDE em termos de disponibilidade e acessibilidade de dados, mas enfrenta desafios no pilar de apoio governamental à reutilização de dados. Dados são vistos como ativos, e a governança de dados envolve marco legal, regras de compromisso para coleta/uso/descarte, e arranjos institucionais para garantir qualidade, privacidade e segurança ao longo do ciclo de vida dos dados. A América Latina, em geral, ainda tem poucos avanços normativos sobre governança ou estratégias de dados, com Brasil e Uruguai sendo exceções notáveis na região.

Apesar de alguns desafios, a transformação digital no setor público brasileiro trilha um caminho promissor, com crescentes investimentos e incentivos à modernização tecnológica. As iniciativas focam em melhorar a prestação de serviços para o cidadão. Um caso de sucesso citado é o do Município do Rio de Janeiro, que modernizou o pagamento de taxas via PIX, reduzindo o tempo de processamento de 48 horas para poucos minutos, aumentando a arrecadação para o órgão público e reduzindo o tempo para a população.

Referências

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  2. ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Concursos públicos: o projeto de lei nacional e a alegada competência da união para editar normas gerais. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 61-71. ISBN 978-65-5518-820-2.
  3. BITENCOURT, Caroline Müller; RECK, Janriê Rodrigues. Administração Pública Digital: impulsionando transparência e controle social nas contratações públicas no Brasil. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 103-116. ISBN 978-65-5518-820-2.
  4. FERREIRA, Sergio de Andréa. Responsabilidade civil do Estado por omissão. A jurisprudência dos Tribunais Superiores ao longo dos 25 anos da CF/88. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 183-196. ISBN 978-65-5518-820-2.
  5. GOMES, Filipe Lobo. Sustentabilidade na Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: modelagem, alinhamento e incentivos em um cenário de sustentabilidade. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 207-223. ISBN 978-65-5518-820-2.
  6. MACHADO, Juliana Horn. E-notariado: inovação nas atividades notariais. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 225-236. ISBN 978-65-5518-820-2.
  7. MOTTA, Fabrício; TOZETTO, Nathália Suzana Costa Silva. A atuação da advocacia pública nos processos jurídicos envolvidos na execução de políticas públicas. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 273-285. ISBN 978-65-5518-820-2.
  8. NEVES, Rodrigo Santos. Indisponibilidade de bens e seu regime jurídico na Lei de Improbidade Admi-nistrativa. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 315-325. ISBN 978-65-5518-820-2.
  9. OLIVEIRA, Anastácia Nadir Melo de; BOMFIM, Daiesse Quênia Jaala Santos; TERRADE, Vanessa de Fátima. Compras governamentais sustentáveis e a reserva de vagas para mulheres vítimas de violência doméstica. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 327-336. ISBN 978-65-5518-820-2.
  10. PEIXINHO, Manoel. Justa causa na ação de improbidade administrativa: exegese do artigo 17, §6º-B, da Lei nº 8.429/92 com redação dada pela Lei nº 14.230/2021. In: FORTINI, Cristiana; CASIMIRO, Lígia Melo de; GABARDO, Emerson (coord.). Desafios da Administração Pública no mundo digital: livro do XXXVII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2024. p. 337-348. ISBN 978-65-5518-820-2.

 

 

 

As políticas governamentais de transformação digital estão moldando o futuro dos serviços públicos e da relação entre Estado e cidadão. Mas será que essas iniciativas estão realmente alcançando seus objetivos de inclusão, eficiência e inovação?

Para direcionar o debate, reflita sobre:

Quais exemplos de políticas públicas de transformação digital você considera bem-sucedidas (ex.: Gov.br, Lei Geral de Proteção de Dados, estratégias de cidades inteligentes)?

Como garantir que essas políticas não ampliem a exclusão digital, especialmente para populações em áreas remotas ou com baixa conectividade?

O papel do governo deve ser apenas de regulador ou também de indutor ativo da inovação digital?

Desafio propositivo:

Se você pudesse propor uma política pública prioritária para acelerar a transformação digital no Brasil, qual seria e por quê

 

Tópico: Políticas Governamentais de Transformação Digital

Políticas Governamentais de Transformação Digital

O Brasil conquistou avanços em muitas frentes de transformação digital nos últimos anos, a exemplo
da atualização da Lei de Tecnologia da Informação e Comunicação, ou Lei de TIC; do lançamento da
Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial; da implantação da Autoridade Nacional de Proteção de
Dados; do lançamento do pagamento instantâneo brasileiro (Pix); da realização do edital do leilão do
5G; e da unificação de serviços governamentais na plataforma gov.br
Neste contexto, a E-Digital 2022-2026 apresenta um renovado diagnóstico sobre os desafios a serem
enfrentados para a transformação digital do País. A E-Digital continua sendo um esforço colaborativo, multi-institucional e multissetorial, visando à inserção plena do Brasil no novo mundo que se apresenta.
Alguns resultados das ações realizadas para o Eixo Habilitador A no quadriênio 2018-2022:

Liberação da faixa de radiofrequência de 700 MHz nos municípios que não dependem desta faixa na transição
para a TV digital(BRASIL, 2020a).

• Reformulação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para possibilitar sua
aplicação na expansão do acesso à banda larga e ampliação do seu uso em ambientes urbanos e em áreas
rurais e remotas. O Fust foi revisado e a nova lei, editada. O texto aguarda análise da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) para regulamentar sua operacionalização (BRASIL, 2020a).

Publicação e ocorrência do Leilão do 5G no final de 2021: o texto define um conjunto de condicionantes, a depender do espectro negociado, para os vencedores do leilão, que vão ao encontro de vários dos desafios levantados no Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert) (ANATEL, 2021a). Entre as condicionantes, destacam-se: a implantação de internet nas escolas públicas, a obrigação de expandir cabos de fibra óptica a municípios desatendidos – Projeto Amazônia Integrada e Sustentável (Pais) – e a instalação de duas redes públicas (privativas do governo federal). Além destas, constam também na portaria obrigações relativas à instalação de 4G em todos os municípios com mais de 600 habitantes, roaming nacional obrigatório e cobertura de estradas com internet de alta velocidade (BRASIL, 2021a).

• Uso de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) em 2020 e 2021 para direcionar recursos a projetos estruturantes que visam à ampliação da conectividade em municípios não atendidos pelas operadoras e à redução do índice de quedas de sinal em alguns municípios, assim como à construção de infraestrutura de backbone de fibra óptica para municípios desassistidos (ANATEL, 2022b).

O projeto Bella, que abriga o cabo submarino EllaLink e marca o desenvolvimento da cooperação entre Brasil e
Europa em áreas de pesquisa, com objetivo de criar alta conectividade entre o continente europeu e a América
Latina.

O Programa Norte Conectado (BRASIL, 2022c) avançou entre 2018 e 2022. Seu objetivo é melhorar a conectividade na Região Norte, por meio da criação da infovia subfluvial utilizando cabos de fibra óptica por toda a região amazônica. O trecho entre Macapá (AP) e Santarém (PA) já conta com os insumos para instalação da rede, tendo recebido 770 km de fibras até 2021. Foi iniciada, ainda, a construção das redes metropolitanas que vão conectar escolas, instituições de ensino superior e técnico, de pesquisa, pontos do judiciário e hospitais universitários nas cidades do trajeto.

O Programa Nordeste Conectado (BRASIL, 2022d) visa a expandir e interiorizar redes de alta velocidade na Região Nordeste. Até 2022, foram implantados equipamentos para iluminação das rotas Fortaleza (CE) a Teresina (PI) e instalação das rotas Teresina (PI) – Sobradinho (BA) e Salvador (BA), chegando a aproximadamente 4.000 km de novas redes iluminadas ou em implantação.

As Redes MCTI/Embrapii de Inovação em Inteligência Artificial e Transformação Digital também vêm atuando nesta área de compartilhamento de conhecimento e de infraestrutura em suas unidades, voltadas ao atendimento de demandas empresariais de P&D com foco em serviços de cibersegurança.

• A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a partir de recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), estruturou linhas de apoio à ampliação da conectividade e da banda larga via financiamento a equipamentos desenvolvidos no Brasil, em programas como o Aquisição Inovadora e o Finep 5G (Fonte: Finep).

• Ampliação da conectividade nas escolas, especialmente nas rurais. Cerca de 10 mil escolas foram atendidas pelo
Programa Inovação Educação Conectada (Piec).

O papel do governo é de um indutor ativo da inovação digital no país, não somente um papel de regulador. O Brasil caminha para se tornar uma sociedade cada vez mais digital. Entretanto, para que se obtenha êxito neste processo, alguns desafios precisam ser superados, a partir da disseminação de competências digitais por toda a sociedade. A falta de internet em escolas, principalmente em áreas remotas, somada à falta de equipamentos e recursos tecnológicos para os estudantes brasileiros, configura um entrave para o aprendizado adequado.

Nas áreas mais remotas frequentemente são necessárias soluções de rede via satélite, seja no acesso (para conectar a população à Internet) ou, no transporte de dados (para conectar estas áreas aos backbones nacionais). Neste caso, são especialmente relevantes as políticas públicas que assegurem o provimento de acesso à Internet aos órgãos de presença do Poder Público: instalações administrativas, educacionais, de saúde, segurança pública e também das Forças Armadas. Uma vez presente localmente esta infraestrutura de acesso, via satélite ou outra solução alternativa, abre-se a possibilidade de desenvolvimento de diversos modelos de negócio para serviços de Internet à
população em geral. À medida que as crianças e jovens tenham contato com a tecnologia no contexto do ensino, ampliam-se a oferta de serviços para famílias, seja para acesso aos serviços de governo digital, seja para comércio e prestação de serviços, lazer e cultura.

O fortalecimento de pequenos provedores contribuirá para ampliar a qualidade e a oferta da internet em áreas remotas. O desafio da acessibilidade por parte da população vulnerável pode ser mitigado por meio da ampliação da
oferta de internet em espaços públicos. A velocidade da conexão no Brasil poderá ser melhorada com ampliação da malha de fibra de alta velocidade no território nacional.

A minha proposição de uma política pública prioritária para aceleração da transformação digital no Brasil pode ser traduzida com uma Ampliação da oferta do serviço de internet em áreas não atendidas, somada à melhoria da qualidade e velocidade para toda a sociedade brasileira.

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