Exclusão digital, desigualdade e desemprego estrutural
A relação entre exclusão digital, desigualdade social e desemprego estrutural é intrínseca e forma um ciclo de retroalimentação que agrava as disparidades existentes na sociedade contemporânea. As fontes indicam que esses fenômenos não são isolados, mas sim interconectados e mutuamente influentes.
Primeiramente, a desigualdade social preexistente é um dos principais fatores que impulsionam a exclusão digital. Cidadãos em situação de vulnerabilidade social, frequentemente devido à falta de recursos econômicos, enfrentam barreiras primárias para acessar o mundo digital. A dificuldade ou impossibilidade de adquirir dispositivos como celulares ou computadores, ou de pagar por acesso à internet, mantém uma parcela significativa da população desconectada. Além disso, a exclusão digital vai além do acesso físico e econômico, abrangendo também a falta de conhecimento ou "letramento digital", uma forma de desigualdade cultural e social ligada ao privilégio que nem todos possuem.
Em segundo lugar, a exclusão digital e as rápidas mudanças tecnológicas contribuem para o desemprego estrutural. As transformações digitais e a automação são apontadas como causas significativas do desemprego estrutural, tornando muitas profissões e competências obsoletas e substituíveis por máquinas. Em uma sociedade cada vez mais digital, onde o acesso a vagas de emprego, serviços públicos, benefícios assistenciais e até mesmo a participação cívica migraram para plataformas online, a falta de acesso ou a incapacidade de usar ferramentas digitais tornam-se barreiras substanciais. Indivíduos sem as habilidades digitais demandadas pelo mercado de trabalho em evolução enfrentam dificuldades para encontrar empregos adequados, o que pode levar ao subemprego ou desemprego, especialmente para trabalhadores de baixa qualificação. Sem estruturas adequadas e regulamentações, as tecnologias podem ser usadas para substituir trabalho humano, resultando em maior desemprego.
Por fim, o desemprego estrutural resultante dessas dinâmicas intensifica a desigualdade social. O desemprego prolongado afeta desproporcionalmente certos grupos sociais, como trabalhadores de baixa qualificação e jovens, aprofundando as disparidades econômicas e sociais. Além de consequências econômicas, o desemprego estrutural pode levar à exclusão social, marginalização e perpetuar ciclos de pobreza, especialmente em contextos com infraestrutura social limitada.
Em suma, a desigualdade social gera exclusão digital, a exclusão digital (em conjunto com as mudanças tecnológicas) contribui para o desemprego estrutural, e o desemprego estrutural, por sua vez, agrava a desigualdade social. Quebrar esse ciclo vicioso exige a implementação de políticas públicas abrangentes que vão além do simples acesso à infraestrutura digital, incluindo a educação digital e a requalificação profissional para capacitar os cidadãos a participar plenamente da economia e da sociedade digitais.
REFERÊNCIAS
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